Não é só peixe que morre pela boca…

Como é que é?

Com mais de 700 espécies de microrganismos (bactérias e fungos), a sua boca participa de uma relação intensa de amor e ódio entre seu organismo e essas criaturinhas microscópicas. Ao mesmo tempo que ali existe potencial para gerar infecções que podem se espalhar para outros  órgãos e te trazerem problemas enormes, acreditem! esses seres minúsculos são importantíssimos para sua imunidade e manutenção da saúde do seu corpinho.

Dentro da sua boca, existem milhares e milhares de bactérias que fizeram da sua língua, dentes e bochechas o seu “lar, doce lar”, e juntamente com elementos da sua saliva, formam a famosa placa bacteriana (placa dental, microbiota, ou biofilme bucal). E hoje vamos entender porque esse aglomerado de microrganismos pode coexistir conosco em paz, trazendo benefícios e também o que pode acontecer caso eles se fortaleçam demais e iniciem praticamente em uma rebelião contra nosso bem estar.

“Placa bacteriana, a heroína!”

A presença dos microrganismos na cavidade bucal forma, nada mais, nada menos, que a primeira linha de defesa do seu organismo. Quando você entra em contato com novas bactérias, ou fungos, através de alimentos contaminados, contato com mãos, unhas, ou objetos que às vezes levamos à boca, a sua microbiota impede que esses visitantes se proliferem a ponto de causar algum dano a sua saúde. É por isso que não ficamos doentes todas as vezes que levamos, por exemplo, uma tampinha de caneta à boca. É a placa bacteriana fazendo o seu papel de boa moça.

Isso também explica porque bebês ficam muito mais doentes ao levarem as coisas na boca. Além do fato de não terem um sistema imunológico muito desenvolvido, neles, a microbiota bucal ainda não está totalmente madura e estável, permitindo mais facilmente a multiplicação de microrganismos causadores de infeção.

Outra coisa importante na relação entre placa bacteriana bucal e bebês, é que: a colonização bacteriana na boca da criança nos primeiros anos de vida, funciona como um estímulo ao desenvolvimento de defesas para o organismo dessa coisinha fofa. É o mesmo motivo pelo qual deve-se permitir que as crianças andem descalças e brinquem na terra. Esse contato brando com micróbios ajuda o sistema imunológico a formar mecanismos de defesa para que, quando houver um contato mais intenso, o corpo já esteja pronto para o combate.

“Placa bacteriana, a vilã!”

Como já dizia o velho ditado, “o que diferencia o remédio do veneno é a dose.” E aqui funciona da mesma maneira!

A partir do momento que a placa bacteriana se desenvolve demais e começa a se proliferar de forma anormal, instala-se o caos! Os mesmos microrganismos que outrora foram benéficos começam a se voltar contra seu hospedeiro (no caso, nós seres humanos) e causar doenças.

O quadro é um pouco mais ameno e exige mais simples tratamento quando os danos ficam restritos apenas à cavidade bucal e são rapidamente socorridos, como em casos de cáries superficiais. Porém, esses microrganismos podem facilmente chegar à corrente sanguínea, percorrer nosso corpo e SE ALOJAREM EM QUALQUER ÓRGÃO, inclusive pulmões, coração e cérebro!

Dados reais:

  • Em pacientes de UTI: A boca serve como reservatório de microrganismo com potencial patogênico e a aspiração de conteúdo da boca seria um dos principais fatores para ocorrência de pneumonias, infeção hospitalar que mais leva a óbito.
  • Em pacientes diabéticos: a doença periodontal (inflamação bacteriana das estruturas de suporte dos dentes, como osso e gengiva) dificulta o controle do diabetes, devido a substâncias liberadas na corrente sanguínea.
  • Na gravidez: substâncias liberadas na doença periodontal estimulam parto prematuro.
  • Pacientes com doença periodontal têm 2x mais chance de sofrerem infarto.
  • Em pesquisa, DNA de microrganismos bucais foram encontrados em 22% dos ateromas (placas de gordura nos vasos sanguíneos), analisados no estudo.
  • Bactérias causadoras de endocardite bacteriana (infecção no coração) fazem parte da maioria dos microrganismos que compõem a placa dental.
  • Infecção em dentes superiores podem iniciar infecções no cérebro (abscesso cerebral).
  • A perda de dentes diminui a qualidade da dieta e reduz a ingestão de nutrientes, o que aumenta o risco para o desenvolvimento de várias doenças sistêmicas.

Claro que o desenvolvimento das condições sitadas envolvem, além da placa bacteriana, outros fatores que podem até mesmo ser de origem genética. Contudo hoje dia já tem-se buscado colocar o tratamento dentário e os cuidados com a saúde bucal, como parte integrante e fundamental do tratamento médico de doenças em várias partes do corpo.

É impossível ter uma boca completamente “bacteria free”! E de fato, nem deve-se mesmo, visto a importância desses bichinhos para a nossa saúde.

Porém eles devem ser minoria, precisam estar CONTROLADOS!

Por isso, meus queridos, escovem os dentes e passem fio dental como se suas vidas dependessem disso! Porque pensando bem, um pouco depende… E essas atitudes diárias simples podem salvar a sua vida, ou no mínimo te livrarem de um problemão.